sábado, 21 de novembro de 2015

Outro rumo | O Homem que tinha coisas #4




Após a conversa que teve com sua mãe – conversa muito pesada, diga-se de passagem – Richard mudou. Na verdade mudou pouco. Deveria mudar as atitudes, direcionar seu coração para a busca da felicidade além das coisas. Mas, por remorso ou por vergonha por ter chegado em casa tantas vezes bêbado, ele diminui as baladas, e começou a centrar-se no seu ambicioso projeto de felicidade: comprar um carro. Mas é válido lembrar que ele apenas diminuiu as baladas e a quantidade de alcool ingerido; ainda saia de vez em quando, e, vez ou outra, chegava alcoolizado. Mas não mais no estado da sua última conversa com sua mãe narrada aqui.


Sair menos fez com que ele economizasse mais. Logo viu que o dinheiro que juntara durante esse tempo de trabalho já dava para comprar um carro. Claro, não era um carro zero – embora as pessoas ao seu redor lhe sugerissem juntar o dinheiro para comprar zero - afinal, diziam que ele teria menos gastos com manutenção. Mas Richard estava obstinado por ter um carro. Lembrem-se que ele desejava este carro porque, além de ostentar, ele fixou a ideia que a garota dos seus sonhos gostava de homens motorizados. - Garotas como ela, dizia Richard, para serem conquistadas, o homem precisa conquistar primeiro seu possante.

Certo dia quando alguém lhe pediu paciência para comprar um carro zero, soltou sua ignorância dizendo: “Comprar carro zero? Eu não sou rico! Pobre não tem condições de comprar carro zero. É o que eu posso, e pronto.” Bom, ele dizia ser pobre por não poder comprar um carro zero, enquanto outros morrem porque no prato tem zero.. Zero comida, zero água pra beber... Enfim, Richard não costumava pensar muito nessas coisas. Lhe dava agonia, pena, mas como não podia matar a fome dos africanos que vivem na miséria, matava sua vontade de ter suas coisas. E ele que se dizia pobre, não podia comprar carro zero; era o mesmo que, por outro lado, não queria qualquer carro. Indicavam uns mais velhos: ano 1980? - Você está me zoando! - Dizia Richard. Ok. Ano 2000, 2001... 2003? Não!? Já tinha a cor, modelo e ano ideal.

Numa bela manhã de sexta-feira vai nosso garoto rumo ao grande feirão de carros novos e semi-novos. Hoje ele saiu determinado a comprar seu possante. Disse consigo mesmo: hoje eu volto pra casa de carro! Mas um fato curioso mudou seu destino.

No caminho ele passa por um restaurante que tinha a fama de ser de gente rica. Ele passa lá com nariz empinado, cara fechada, desejava frequentar tais lugares, mas não tinha dinheiro. E pra frequentar lá, digamos que teria que ter muito dinheiro. Ele passa meio desejoso, meio entregue também à inveja. É que quando se torna uma pessoa que tem coisas, tudo causa desejo de possuir. Nunca se está satisfeito. Mas então um garçom interrompe as passadas de Richard e fala:

G – Meu rapaz! Um minuto...
R – Pois não?
G - O sr daquela mesa pediu-lhe para falar com você. Entre, por favor.
R – Quem é este homem? Eu não o conheço. O que ele quer comigo?
G – É um antigo cliente. Não sei o que quer contigo. Apenas disse para te chamar.

Neste momento o Garçom olha para o sr sentado à mesa, e ele confirma com a cabeça, olha para Richard, e com a mão direita faz um sinal de “venha cá”.

Richard foi confuso, porém, não tinha nada a perder, e ainda ia entrar no restaurante chique.

O que o senhor deseja?”, disse Richard, meio apavorado, a voz meio embargada. E ouviu daquele misterioso homem um forte: SENTE-SE!

Tudo bem, pensou Richard. Sentou-se. E ouviu daquele homem “Me chamo Artur. Sou um multimilionário e você me chamou bastante atenção.” Richard ficou mais admirado e confuso. Por que um multimilionário iria ficar impressionado com ele?

R – Hum, mas por quê?
A – Você me lembra muito meu filho! - E faz uma cara de tristeza misturada com rancor, raiva.
R – Sério? O que houve com ele? Ele... - embarga a voz – morreu?
A – Para mim sim! Aquele miserável! Ingrato! - Disse o ricasso de maneira irada.
R – E o que eu tenho com isso, meu senhor?
A – Nada. Esquece! Diga-me: O que você quer da vida?
R – Eu? Bom, eu quero ser rico, ter minhas coisas... (Artur o enterrompe)
A – Óh! Que coisa boa! Pelo menos nisso você não se parece com meu filho. Aquele moleque! - Respira fundo – E você, é pobre? Faz o quê da vida?
R – Sim. Bom, eu trabalho... dá para ir vivendo. Aliás, depois de passar um tempo juntando dinheiro, estou indo ali comprar um carro. Me sugere algo? Estou nervoso, meu primeiro carro, o sr sabe como é, neh?
A – Sim, carro sempre deixa a gente embaraçado. Sempre fico confuso quando tenho que sair e não sei qual dos meus seis carros uso. Ai, que tédio.
R – Seis carros? Pra quê tudo isso?
A – Ah, moleque! Não fique perguntando essas coisas.
R – Um dia quero ter também tantos carros. Mas – pergunta Richard – com tantos carros, porque essa cara de tristeza?
A – Como disse, para mim meu filho morreu! Eu contruí um império. Sou dono de uma poderosa corretora. Muita grana rola solta. Mas ele, que criei para ser meu sucessor, não tem gana, não tem vontade de seguir minha carreira. Tudo, tudo que construí... De que serve? Ele me diz que dinheiro não traz felicidade, que quer viver uma vida simples, e que sua vocação é outra... Aaah, vocação! Foi-se até embora de casa. Vive numa casa simples, trabalha em emprego simples, enquanto poderia ter todo poder da minha empresa. Mas não, ele desprezou tudo.
R – É, meu senhor, seu filho é meio bobo... Eu querendo ser rico, e ele.. pobre?
A – Nem fala isso! Mas, mas.. Que bom que queres ser rico. Eu posso te fazer rico, caso queira!
R – Pode?
A – Se aquele bastardo não quis meu império, deserdo ele e ajudo a outrem. É bom ver que em você há o desejo do dinheiro.
R – O que tenho que fazer?
A – Trabalhar comigo na minha empresa. Poderá ser um dos meus assistentes, se tiver qualidade para isso.. Ah, você parece com meu filho... Pena que ele despresou as riquezas.

E apesar de se mostrar um "tio patinhas" durão, mando em tudo, posso tudo, escorre uma lágrima em seu olho direito. Richard fica espantado, afinal, achou que as pessoas ricas não chorassem – a não ser de alegria -, nem sofressem, nem se demostrassem tão tristes e melancólicas. Ele lembra dos discursos de sua mãe falando sobre a felicidade. Felicidade essa que tanto perturbava sua mente em suas meditações. Então atreve-se a perguntar para o poderoso empresário:

R – Você é feliz?
A – Claro que sim. Eu tenho tudo. Compro tudo que quiser.
R – Bom, só não pode comprar o amor do seu filho...
A – Amor!? Que amor!? Idiota! Que que eu lhe retire a proposta que lhe fiz?
R – Não, claro que não... Mas, você pode comprar tudo, só não pôde comprar o amor do seu filho.
A – Porque ele é um safado. Deve estar sendo influenciado pela mãe dele. Deve estar ensinando historinha de desapego...
R – Mas em todo caso... Porque não conversa com sua esposa sobre isso.
A – Que esposa?
R – A mãe do seu filho
A – Ela não é minha esposa. Separamos há muito tempo. Ela foi, na verdade, a minha primeira esposa. Aí ela começou a ficar torrando minha paciência com história de (fala imitando uma voz feminina de modo a desprezar) “passar tempo em casa com a família, trabalhar menos, dinheiro não traz felicidade, dê atenção para o seu filho”. Ai chatice. Pro meu trabalho ninguém liga! Nos separamos, pago a pensão. E, desde então, troquei de esposa cinco vezes. Meu jovem, eu sou rico. Não está mais agradando eu descarto e compro outra que me fará feliz.
R – Poxa, que história heim. E com quem está casado hoje?
A – Bom, faz cinco anos que desisti disso. Casamento dá trabalho. Então não tenho esposa. Faço de todas as mulheres minhas esposas. Basta passar o cartão de crédito, ter dinheiro, ter cheque. Me entende rapaz (e solta uma risada macabra).
R – Deve ter uma vida bem agitada, em senhor Artur?
A- Um pouco, meu garoto!
R – Mas, é feliz assim?
A – Garoto irritante! Por que volta à mesma pergunta!? (Responde zangado).
R – Porque desejo ser feliz.
A – É claro que sou feliz.
R – De verdade?
A - Claro!
R – 100% feliz?
A – Sim. Claro, para ser sincero, garoto irritante, eu não sou 100% feliz. Mas, eu tenho dinheiro. Meu dinheiro compra a felicidade. Estou triste, compro Wisky, vinho 20 anos... Fumo meus charutos. É verdade que muitas vezes continuo sem ser preenchido. Existe um troço dentro que não é saciado. Meu filho, aquele bastardo estúpido, diz que preciso de Deus, mas, como não acredito nEle, eu tomo mais Wisky ou vou procurar minha mulher...
R - Mulher!? - exclama Richard – o senhor não disse não ter mulher?
A – Sim, moleque, deixe-me concluir! A minha mulher da semana.
R – Ah, sim, entendi. E é feliz assim?
A- Claro, quando enjoo, troco por outra. E assim vai indo. Tenho dinheiro, posso o que quiser.

Para qualquer pessoa normal isso seria um sinal de que ele não deveria se apegar tanto aos bens materiais. Não para Richard, pois ele se admirou.

O ricasso pega seu cartão, entrega para Richard, e fala: “entre em contato comigo, rapaz, se quiser dar um passo em sua vida. Estou disposto a te ajudar.” Richard pega, olha admirado quase não acreditando na sorte que acabara de tirar.

A – Meu jovem, como se chama mesmo?
R – Richard.
A- Então, Richard, vaza daqui agora que minha felicidade acaba de chegar.

Falou isso, pois esperava sua “mulher da semana”. Embora o velho mentisse, às vezes era mulher de um dia apenas. Como Richard fez, o ricasso também fazia: as mulheres eram apenas objetos compráveis. Richard ao ver a bela mulher que entrara no restaurante para fazer companhia ao velho Artur, teve a certeza em seu coração, que ter dinheiro, carro, seriam o caminho para ter a mulher dos seus sonhos.

Richard sai de lá animado, confuso, é verdade, por ver alguém falar de felicidade quando precisava ser dopado e comprar as pessoas. Mas segue.

No caminho rumo ao feirão dos carros – lembrem-se! Richard estava indo comprar seu carro -, ele é abordado por uma senhora pobre, simples, suja.

S – Bom dia meu jovem, tudo bem com você? Que Deus lhe abençoe! (Disse com um sorriso triunfante, belo, irradiante, tal qual nunca vira antes).
R – Bo.. Bom, dia...
S – Eu me chamo Efigênia, tenho 75 anos. Meu filho não teria uma esmolinha para me dar? Meus netos e eu moravos numa favela, num barraco de madeira, passamos muita necessidade. Se quiser pode ir ver...
R – Eu, eu não tenho como ajudar... (Ele tinha o dinheiro pra entrada no carro, mas o carro era mais importante do que ajudar uma esmolera).
S – tudo bem, meu filho. Sabe, posso te contar algo?
R – Sim – disse Richard querendo dizer não, pois tinha pressa.
S – Ao ver este Tau em seu pescoço lembrei-me de S. Francisco. - Tau é um objeto que lembra uma cruz, Richard não cria, mas usava por respeito a sua mãe que lhe deu.
E a senhora prosseguiu:
S – Ai, como seria bom se no mundo tivessem mais Franciscos de Assis. Eu quero ser uma. Abraço minha pobreza. Também caso com minha pobreza. Peço pra ir sobrevivendo. Eu sou feliz. Sabe, meu filho? Que bom te ver. Você é um sinal do amor de Deus por mim, ao aparecer diante de mim com este Tau que fez lembrar de Cristo. Hoje mesma pensava na minha situação: estou com meus filhos desempregados, meus netos passando necessidade. Estou doente, filho, uns caroços na perna. O médico disse que terei que amputar. Mas, sou feliz. Há uma felicidade profunda que invade a minha alma que não sei explicar de onde vem. Ah, vem de Deus. Você também sente, não é mesmo?
R- É, é claro... - Disse Richard com voz embargada, mas com o coração dizendo: não, sua maluca. Sai daqui!
S – Se eu tivesse todo dinheiro do mundo, não seria feliz como sou.
R – Certeza?
S – Absoluta, meu filho. Você não tem condições de me dar esmola. Eu te entendo. E que Deus te dê condições de vida. Que ele te abençoe, abençoe teus negócios. Mas saiba que melhor do que as esmolas, foi te ver com este tau.

Richard, envergonhado por não ter dado esmola àquela senhora, pega seu tau – que ele nem acreditava – e entrega como presente a senhora. Aquela senhora exulta de alegria. Reza por Richard, pede intercessão à Mãe de Deus, aos santos, a São Francisco... Richard sem crer, ouve, confuso.


Ela sai quase que em êxtase de felicidade. Isso causa confusão em Richard: como um homem tem dinheiro, tem tudo o que quer, só transmite tristeza, raiva, ódio; enquanto essa senhora, nem da saúde do corpo goza, mas transmitiu o mais belo sorriso que já pude ver na minha vida? Preciso conversar com o Artur depois, ele tem carro, dinheiro, mulheres, e não soube transmitir essa felicidade que diz ter; da mesma forma que esta velhinha transmitiu ao ganhar um Tau enferrujado.

                                             Continua no próximo episódio. Clique aqui e leia.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Bailando na vida | O homem que tinha coisas #3

Assim segue a vida de Richard, o homem que tinha coisas: trabalhando, ganhando dinheiro, juntando coisas.

E um obstáculo que, segundo o que ele achava, o impedia de conquistar mais coisas, está sendo retirado: chega o fim da escola. Enfim está livre. E ele está feliz por isso. Sim, muito feliz. Agora ele poderá ter mais tempo pra ganhar dinheiro e, aquilo que para ele mais importa, poderá se aproximar da garota de seus sonhos no baile de formatura.

Chegado o dia do baile, ele se dispôs a fazer daquele dia O DIA da sua vida. Eis que se prepara com o melhor de suas roupas descoladas, gel no cabelo, perfume exageradamente exalando a distância (o famoso “banho de perfume”), e sai para o baile. Ele queria causar. Sim, ele tinha que fazer isso – segundo o que ele entendia – afinal, sabia que possivelmente a garota de seus sonhos estaria acompanhada daquele rapaz que ele havia visto juntos.

Chegando ao local do baile, Richard logo é recebido pelos amigos com frases como “hum, até parece gente!”; “Eita lindão...!”; “Que marmota é essa que tu fez?” Afinal, amigos de escola só fazem isso. Ele apenas sorriu, meio zangado, e falou – vocês são um bando de invejosos, isso sim!

Mas eis que ali está a bela garota dos sonhos de Richard. Sentada com as amigas ao redor de uma mesa. Mas além das amigas está um rapaz. Richard se anima, afinal, é outro rapaz. Após um desligamento repetindo dela, Richard ataca e...
R - Oi...
G – E ai, Richard, como você está?
R - Estou bem, e você?
G - Também..
R - Então, a gente conversou naquele dia... Te vi aí... Queria te convidar pa... (é interrompido pela garota)
G – Sem querer te magoar, mas não vai dar. Estou acompanhada com meu namorado.
R – Namorado? Você não disse que não estava a fim de namoro, que ia se dedicar aos estudos?
G – Sim, mas aí apareceu ele...
R – Quando?
G – Há duas semanas!
Richard faz uma cara de decepcionado com aquela situação. Sentindo-se um lixo por ser rejeitado. Mas a garota de seus sonhos – que fizera do seu baile um pesadelo – conclui:
G – Leva a mal não, mas não vai rolar...

Richard contém as lágrimas, afinal, sabe que chorar naquele momento pode ser prejudicial para sua honra. Não, não é que homem não chore, ele só não queria demonstrar sentimento por quem o desprezou. Mas antes ele tivesse chorado como uma criança, pois o homem que tinha coisas, tomou uma decisão naquele baile. E pensava consigo mesmo:

- O que este cara tem que eu não tenho? Se ela não me quer, tem quem queira. - E começa a passar o olhar pelo salão buscando suas presas. É porque o homem que tinha coisas achava que podia conseguir o que quisesse, pois tinha, pois podia... Embora com a garota de seus sonhos tenha dado errado.

Ele logo vê a Chiara sentada numa mesa. Ele a olha com desprezo. Na verdade o seu desprezo é um temor. Você deve estar se perguntando por que ele não se interessa pela Chiara, seria ela feia? Não, não... Chiara é que chama por aí de mulher virtuosa. Bom, no caso uma garota virtuosa. Bela, meiga, não fala palavras baixas, educada, estudiosa; é do tipo de garota que mostra o coração e não o corpo. Isso causa tremor em Richard, pois a garota dos seus sonhos era totalmente o contrário, e o corpo foi o que lhe atraiu (e ironicamente seu coração o que lhe repeliu).

Quando se é uma pessoa que tem coisas, que deseja coisas, você atrai pessoas com o mesmo propósito. Richard desprezou Chiara após ter sido desprezado pela garota de seus sonhos. E agora, como um ímã, aproximam-se garotas dele. Garotas que querem suas coisas. Mas Richard também quer coisas. E para esquecer sua desilusão, Richard faz dessas garotas, suas coisas. Foi a primeira noite em que ele começou a usar as mulheres como objetos descartáveis para seu prazer. Como coisas que se compra em supermercado, ele ficou com uma (sim, ficar, aquele termo que vocês certamente conhecem, que é dado para pessoas que beijam apaixonadamente umas as outras, sem compromisso, só pelo prazer), com outra... E começou a gostar disso. E até as mais inocentes ele se atreveu a usá-las iludindo-as. Menos Chiara, pois esta, ele conhecia e temia-a.

Depois de terminado o baile, ao lembrar-se da garota de seus sonhos, ele viu que não a amava. Mas que podia ter quantas dela quisesse, pois ele agora era o cara.

Mas após acordar, já em sua casa, obviamente, lembrando-se de tudo que acontecera, Richard cai numa ligeira depressão. Começa a pensar consigo mesmo: tá, fiquei com as meninas, mas e aí? Cadê a felicidade? Por que o vazio voltou? - Richard acaba de descobrir que usar as pessoas não é sinônimo de felicidade; no máximo pode dar um prazer momentâneo, mas o vazio de um fracasso sempre vem. Pois Richard esqueceu-se do amor. Richard agora quer coisas...

E pega sua coisa, digo, celular, e vai conversar nas redes sociais com os amigos. E os amigos dizem:
-Cara, tu é um otário mesmo. Tu assim porque foi um baile de escola... Tu tem que ver como é o frevo na boate que vou toda semana. Você está é precisando encher a cara e fazer sexo.

Richard concordou e ficou pensativo nisso. Ele acreditava mesmo que seus amigos diziam a verdade sobre a felicidade estar no sexo e na bebida. Apesar de que só os via felizes quando estavam drogados. Depois se drogavam de novo pra serem felizes... E, enfim, Richard não pensou nisso. E também não pensou no seguinte: se sexo fosse sinônimo de felicidade as pessoas mais felizes do mundo estariam nos bordeis. E ele só as via tristes, sorrisos forçados... Mas ele não estava nem aí.

Foi pra boate, tomou seu primeiro porre. Gastou muita grana. E, instigados pelos amigos, perdeu a virgindade com qualquer uma. Ele não lembra, estava bêbado. Mas os amigos contaram. E depois da noitada Richard medita: o que ganhei além de dor de cabeça? Mas agora ele tinha dinheiro, coisas, amigos (dele ou das coisas?), mulheres... Jovem e promissor.

Após outra noitada, nosso garoto, digo, homem que tinha coisas, está de ressaca, e sua mãe olha para aquela cena deprimente do filho deitado por cima do próprio vômito, já recuperando a consciência e lhe diz:
DC – Um pássaro que anda longe do seu ninho: tal é o homem que vive longe de sua terra.
R – É o que? Eu bebi e a senhora que ficou bêbada (ri levemente). Ora, eu nasci e cresci nessas terras.
DC – Falo da terra do teu coração. Da tua essência. Você tem que encontrar a felicidade na sua essência, não voando por aí. Serás sempre inquieto se não encontrar e felicidade dentro.
R – É...
DC – Filho, você é feliz?
R – Claro!
DC – Cadê seu sorriso que nunca mais vi? (fala mostrando-lhe um retrato antigo quando seu filho ainda não era um homem de coisas; onde sorria belamente – e mostra-lhe caindo-lhe uma lágrima)
R – Está aqui, ma-mãe... - Sorri forçosamente e pega no celular e mostra pra mãe dizendo: - Olha aqui como sou feliz?
Dona Clara chora, ao ver o filho sem camisa, claramente embriagado, abraçado por um amigo, algumas garotas, olhos vermelhos, alguma coisa branca no nariz... E o filho com um sorriso... Um sorriso que faz chorar, se é que me entendem. Essa era a felicidade de Richard. E ele se acostumava a chamar isso de felicidade. Um dia ele viu um rapaz dizendo que acordou – após a festa – nu em cima de uma mesa. No início ele achou estranho como alguém pudesse ser feliz assim. Mas como passou a beber também não se importa. Richard aprendeu que quando a consciência vem dizendo que isso não é felicidade, deve-se voltar a beber, a ter relações sexuais, enfim, ele engana-se a si mesmo. Mas sua pobre mãe chora... Pois a ela ele não engana. Não somente a ela, mas a todos, afinal, todos perceberam a mudança de Richard.

E prossegue o diálogo:

DC – Para aqueles que permanecem junto ao vinho, para aqueles que vão saborear o vinho misturado. Não consideres o vinho: “como ele é vermelho, como brilha no copo, como corre suavemente!” Mas, no fim, morde como uma serpente e pica como um basilisco! Os teus olhos verão coisas estranhas, teu coração pronunciará coisas incoerentes. Serás como um homem adormecido no fundo do mar, ou deitado no cimo dum mastro: “Feriram-me – dirás tu-; e não sinto dor!”. “Bateram-me.... e não sinto nada. Quando despertei eu? Quero mais ainda!”. - Assim estás vivendo, meu filho, entregue à bebida, e espero que só a bebida (chora, para... continua.) e a prostituição (Richard interrompe)
R – Que prostituição o quê!
DC – Cale a boca que eu não terminei! (Toma fôlego e prossegue) Não vês que quanto mais se entrega a essas coisas, mais dependente delas fica; encontras o prazer, mas não a felicidade. Você é meu filho, mas está se autodestruindo.
R – E desde quando sair, se divertir, namorar, é errado?
DC – Você chama de diversão, felicidade, se embriagar e dormir por cima do próprio vômito? Namorar não é errado, mas, diga-me, qual o nome da sua namorada?
R – Não tenho.
DC – Então você sabe, que o errado não é namorar, mas usar as pessoas como coisas. E você está fazendo isso. Usando dessas moças...
R – Essas das festas não prestam
(Dona Clara após lhe dar um tapa eu seu rosto): - Presta menos ainda você, seu safado, que está usando-as. Eu não me sacrifiquei a vida toda para agora ter um filho cafajeste!
(Silêncio agoniante...)

R – Eu sou jovem...
DC – No meu tempo os jovens amavam, e não usavam uns aos outros. Que Deus e Nossa Senhora tenham piedade de ti...
R – Só queria que você me entendesse. Eu quero ser feliz.
DC – Eu também fui jovem, eu também quis ser feliz. (Suspira) Mas tarde amei a beleza tão antiga, e tão nova. Eis que estava dentro, e eu fora. Você precisa aprender isso. Ou servirá apenas para as estatísticas.
R – que estatística?
DC – De gente que não é feliz. E essa parece ser a maior parcela. Sabe? Gente que busca coisas e não o amor.
R – fala umas coisas estranhas às vezes.
DC – Filho, lembra-te do teu Criador nos dias da tua juventude, antes que venham os maus dias e que apareçam os anos dos quais dirás: “Não sinto prazer neles!”. Antes que escureçam o sol, a luz, a lua e as estrelas, e que à chuva sucedam as nuvens. Enquanto é tempo, saia da vida dissoluta, pois onde passa um boi passa uma boiada; busque a felicidade plena, e não a artificial que só te destrói. Enquanto é tempo, filho. Que Jesus Misericordioso vos ajude.

Richard ficou em silêncio por respeito (bom, ainda lhe restara respeito por sua mãe). Mas, apesar de se sentir mexido, interiormente ele achava que sua mãe era apenas uma moralista religiosa “defensora” dos bons costumes. Sua mãe, que ele julgava ser antiquada, havia lhe preparado um belo e reforçado café da manhã. Mãe normalmente é assim, por mais que o filho não preste e dê motivos pra ela se afastar, ela prefere misturar as lágrimas ao café do que abandonar o filho.

Richard, embora, como disse, ache a mãe uma moralista religiosa, acaba refletindo: É, no fundo ela tem razão. Eu tenho coisas, mas não tenho amor. Só ela me ama. Mas...

É, esse “mas”... Mas o que Richard irá fazer? As palavras de sua mãe surtirão efeito? Ou continuará desejando as coisas?

Felicidade onde estás?
Felicidade quero te encontrar
Quero ser amado, quero amar
Quero preencher o vazio interior
Felicidade!? Felicidade!?
Não me abandone, por favor!

Não te abandonei
Foi você que me abandonou
Estou no seu interior
Busque-me dentro e me encontrará
Saiba que o mundo não te preencherá

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

As primeiras coisas | O homem que tinha coisas #2

Clique aqui para ler o episódio anterior

Richard, diante da opressão do seu próprio coração que desejava possuir o que os outros tinham, se põe a trabalhar para realizar seus sonhos. Afinal, não se pode ficar esperando que os sonhos se realizem num passe de mágica, é preciso trabalhar para alcançar os objetivos.

Eis que chega mais um dia de aula. Richard está pensativo. Ele pensa numa forma de ganhar dinheiro. Como é jovem teme não conseguir muitas oportunidades de trabalho. E assim ele passou toda a sua manhã: vendo uma explicação, que pra ele era chata, e sonhando com seu celular novo.

Acaba a aula. Richard sai pensativo. Eis que o destino lhe faz esbarrar com um antigo amigo que há tempos não via.

R –E aê, Paulo, quanto tempo!
P – Pois é, sumido, estou aí na correria. E você?
R – Estou concluindo a escola. Aliás, estou à procura de alguma coisa para fazer. Preciso de um trabalho. Sabe de algo?
P -Poxa, brother, sei não. Bom, posso te dar uma ideia de você trabalhar para você mesmo.
R – Oxe, como assim?
P – Como eu faço. Eu trabalho pra mim. Sou autônomo. Por que você não pega alguma coisa pra revender na rua? Dá dinheiro. Se souber trabalhar dá pra ganhar muita grana. Tá vendo aquele carro ali? Comprei só vendendo coisas na rua.
R – Vixe, boto fé! Mas não levo jeito pra isso não.
P – Claro que leva. É só ter lábia. Eu te conheço, sei que é extrovertido, sabe conversar... Você se dará muito bem nesse ramo.
R – Será? - Perguntou Richard pensativo, se imaginando comprando seu carro, assim como Paulo, seu amigo que a tempo não via, mas que lhe trouxe uma luz.

Richard aceita a proposta do amigo e passa a vender doces na rua. Agora ele é um empreendedor. E como foi um bom aluno, sabe calcular sua margem de lucro e ao ver o preço que pegava os produtos com o preço de venda, calculou e viu que de fato dava pra fazer a vida. Claro, sabia da dificuldade, mas sabia que dos doces poderia juntar grana e investir em outros produtos mais lucrativos. Sua ambição estava o movendo.

E eis que Richard, após a vergonha inicial, se solta e começa a vender dentro de um ônibus:

-Atenção, atenção pessoal... Aqui é “vida loka” e quero dizer que com bala até os dentes. Olha a bala! - Alguns passageiros se assustam – e ele fala: - Olha a bala de menta, eucalipto... Alguns passageiros reclamam, mas diante do bom humor de Richard logo compram seus produtos.

Vendendo balas em ônibus, e outros produtos de porta em porta – pegou rápido o espírito empreendedor – logo conseguiu comprar o que queria: seu celular.

Em casa Richard exultava de alegria mexendo no celular, usando os aplicativos que todos usavam e comentavam. Agora Richard era feliz, ele tinha as coisas que seu coração almejava: dinheiro e o celular. Ele era o jovem mais ultra- mega- power da face da terra: já estava passado de ano na escola, era “independente” financeiramente com seu trabalho, tinha celular top... Ele era o cara.

Richard, o homem que tinha coisas, agora tem Whatsapp, e adiciona a bela garota dos seus sonhos, aquela que encanta todos os rapazes da escola. Richard joga conversa fora com ela. Richard se vê apaixonado por ela. E ele se enche de confiança, afinal, agora tem dinheiro de seu trabalho, celular...

Com toda fé em suas potencialidades ele chama a garota pra sair. Ela recusa seu pedido, lhe demonstrando total desinteresse nele. Richard fica arrasado. Mas ficar arrasado nem sempre faz com que a pessoa deixe de estar apaixonado. E a garota de seus sonhos, continua perturbando sua mente.

Em casa aquele garoto, contente com seu celular, demonstra irritação. Mexe no celular, dá umas risadas, mas logo demonstra irritação total. A paixão pela tecnologia passou... Parece que o celular novo, os aplicativos, a internet móvel, nada disso está preenchendo seu coração. E Richard se pergunta:

- Eu queria tanto dinheiro e esse celular. Agora tenho. Por que não sou feliz? O que é preciso fazer para ser feliz?

E em meio a este questionamento, ele se lembra da garota de seus sonhos. Logo conclui que precisa dela para ser feliz. Richard não se imagina vivendo sem ela. Então tenta mais um diálogo; e a garota fala “- no momento eu não estou pensando em namoro, sabe? Quero me dedicar aos estudos...” - Disse a garota que não estuda e mata aula.

-Poxa, ela não quer ninguém.

Certo dia, Richard saindo da escola e se preparando para seu turno de trabalho, observa a garota que ele julga ser o amor de sua vida entrando num carro rebaixado, dirigido por um “playboy”. Após ver suas demonstrações de afeto, Richard percebe que se trata de um namorado ou algo do tipo. E o pobre do Richard, rancoroso e com o coração pesado pensa consigo mesmo:

-Mas ela não disse que não queria ninguém? Agora entendi, para ter garotas como ela precisa ter carro e mais dinheiro. Se ele tem, eu também tenho.

Naquele dia meio atribulado, não conseguiu vender muito. Sua mente pertubava-lhe com aquela cena que viu.

No outro dia, sabe-se lá o porquê, Richard recebe um pequeno bilhete que dizia assim:

Richard, está acabando a escola. Talvez nunca mais nos veremos. Por isso gostaria de dizer que gosto muito de você, te admiro. Você começou a trabalhar para conquistar suas coisas, não se acomodou. Você sempre presente com sua família, sua mãe que é tão trabalhadora. Enfim, continue sempre assim. Nunca se corrompa. Que Deus te abençoe sempre. Espero que a gente continue se vendo após a escola...” e vendo os coraçõezinhos desenhados, Richard viu aí talvez alguma pretendente. Perguntando quem foi que escreveu, descobriu que foi a Chiara. Mas logo pensou:

-A Chiara? Credo, menina sem graça. Ela não é a garota dos meus sonhos...

Richard, o homem que tinha coisas, tinha um celular e dinheiro pra sobreviver, agora quer um carro e status pra aparecer e ter uma namorada. Ele tem até uma pretendente, mas por ele a rejeita.

Richard, o homem que tem coisas e mais coisas quer ter. Ele quer ser feliz, será que conseguirá? Onde ele chegará? A felicidade, Richard poderá comprar?


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Por que ele tem e eu não? | O homem que tinha coisas #1

O homem que tinha coisas queria o mundo conquistar. Sempre em busca de seus sonhos, queria a todo custo realizá-los, pois, acreditava piamente que conquistando o que seu coração desejava, seria feliz.

O homem que tinha coisas, muita coisa conquistou. O homem que tinha coisas chama-se Richard, um grande sonhador. Richard é filho de Dona Clara – uma senhora humilde, simples, trabalhadora - que cria os cinco filhos sozinha após ter ficado viúva. E aqui começa alguns embates na vida de Richard, que tinha amor de mãe, mas queria mais... Queria coisas.

Richard chega da escola um pouco agitado, se aproxima da mãe, que estava a preparar o almoço, e inicia um diálogo:

R – Mãe, eu queria pedir algo pra senhora... Eu quero um celular... Um celular desses novos.
DC – Celular? Meu filho! Você sabe que não tenho condições.
R – Mas todos os meus amigos têm. Por que eles podem ter e eu não?
DC – Meu filho, eles eu não sei. Mas nós, nós somos pobres.
R – E por que somos pobres?

Eis que surge um silêncio gritante. Dona Clara falou; não com palavras, mas seus olhos lacrimejantes, transmitindo a dor da pergunta do filho, falavam. Mas Richard não se satisfez e prosseguiu o diálogo:

R- Pobreza! Que droga ser pobre! Porque o Fábio pode ter um celular e eu não? É pecado ter as coisas? Por que temos que nos contentar em não ter nada?
DC – Nós somos pobres porque temos uma riqueza maior
R – Qual sua riqueza, mãe? Trabalhar igual uma condenada fazendo faxina e viver de quase nada? Não temos muitas coisas...
DC – Não temos riquezas materiais, porque a minha riqueza é você e seus irmãos. Eu não preciso de coisas! Não mesmo, meu filho. Eu preciso do amor para todos os dias levantar às 4h para labutar para que você e seus irmãos não tenham coisas, mas tenham o alimento de cada dia. Perdoe-me por não dar-te tudo que queres, mas o que posso te dou: a graça de viver, a educação, e o mais importante: a fé.
R – A fé, a fé – responde Richard com voz embargada querendo chorar de birra – fé em quem? Por que Deus permite a pobreza? É errado ter coisas?
DC – Quer ter coisas? Deus te deu saúde. Comece a trabalhar e lute para tê-las. Já tem 17 anos, pode muito bem fazer algo. Não fique desejando as coisas dos outros, trabalhe.
R – Mas, mas mãe... Até eu conseguir o dinheiro do celular...
DC – Que triste, Richard! Como estou decepcionada. Nunca imaginei que você iria ser tão apegado aos bens materiais, ao ponto de nem se quer dar valor a própria mãe pelo esforço para te educar. Seu pai ficaria muito ofendido.

Richard sai de lá chorando. Mas havia um misto de sentimentos. Não sabia se chorava porque de fato viu que não valorizara o esforço de sua mãe, ou porque saiu sem esperança no celular.

E na rua Richard fica a olhar para o mundo. O mundo que tem meninos sem pai, sem mãe, sem comida, sem amor. Richard não tinha tudo que queria, mas tudo que precisava ele tinha. Ele tinha uma mãe que o amava, tinha irmãos, tinha o alimento de cada dia. Mas a cegueira o fez tão incoerente, que ao sair para rua, ele não via o mendigo faminto, mas enxergava com olhos altivos o empresário com celular última geração; não via o pobre trabalhador que, a exemplo de sua mãe, ralava trabalhando, e pegava ônibus lotado, mas enxergava o proprietário de um carro de luxo, e ali deleitava seu coração no desejo de possuir tais bens. Ele não via quem estava pior que ele. Richard só olhava para quem supostamente estava acima dele; achando que eram felizes pela ostentação ou simplesmente pela posse de bens.

Nessa saída maluca, atordoado desejando coisas, Richard vê uma faixa na rua que o intriga: as pessoas podem ter coisas, mas será que têm amor?

Nesse momento Richard olha para o Céu e brada:
-Tu existes? Se existe porque permite a pobreza? Heim, fala aí! Por que me permite sofrer desse jeito? Ainda dizem que tu és um Deus de amor. Que amor é esse!? É pecado ter um celular? É pecado, por acaso? É pecado ter um carro? Por que só eu não posso? Heim, Deus! Por quê? Por que o Fábio tem um celular e eu não? Por que aquelas pessoas, por quem passei agora, tem carrões e eu não? Por que, Deus, por que elas são felizes e eu não! Por quê? Por que você me odeia? - E se pôs a chorar...

Estava tão abatido que atraiu uma pessoa para lhe ajudar.
P – Meu irmão, precisa de ajuda? Posso te ajudar?
R- hã? O que!? - Brada surpreso, afinal, essa pessoa é um morador de rua – Você me ajudar?
P – Se eu puder, é claro...
R – Como você poderia me ajudar? Normalmente é você quem vive pedindo ajuda – diz debochadamente.
P – As pessoas me ajudam com o que tem. Normalmente uma esmola. Eu as ajudo com o que tenho. Tenho a minha fé num Deus que não abandona...
R – Deus... Deus existe? Como pode falar de Deus se Ele te permite viver assim?
P – Bendito seja Ele, pois me permitiste viver em meio a um mundo que só se fala de morte. Meu filho, eu moro na rua há 10 anos e a cada dia posso contemplar o cuidado de Deus.
R – Que cuidado? Olha pra você!
P – sim, eu olho. E é por isso mesmo que disse isso. Às vezes, meu filho, culpamos a Deus pela situação que nos encontramos. Mas nossa vida não é pra essa terra. Nós somos chamados para a vida eterna. Essa vida é passageira. Tudo passa, mas só Deus basta. Não importa a pobreza que vivamos, o que importa é o amor de Deus, sim, eis nossa riqueza. Além do mais, a pobreza material, a miséria, não é vontade de Deus. Muitos culpam-O, mas não é vontade dEle. Sei que não é o seu caso, não é meu jovem? Mas veja bem: eu estou nessa situação por minha própria culpa. Revoltei-me com meus pais, pois queria ser rico. Fugi de casa, fui trabalhar fora... Ganhei dinheiro. Com o dinheiro me senti vazio, conheci o álcool, as drogas... Até a mulher que era o amor da minha vida a perdi para o mundo mau. Só quem não me abandonou foi Deus. Vim parar nas ruas. Mas não por culpa de Deus, mas porque o meu deus foi o dinheiro, as coisas, o poder... Neles me perdi e vim parar aqui. Que culpa tem Deus se eu desenhei minha história errada? Que culpa tem Deus se os governantes roubam o pão dos pobres para enricar a si mesmos e seus poderes diabólicos de opressão? Deus nos deu livre arbítrio. Se há alguém em vida de miséria, alguém foi livre para ajudá-la ou fazer com que continuasse e/ou que outros aí entrassem. Deus usa as mãos das pessoas para ajudar os que precisam. Mas se as pessoas não querem, a culpa não é de Deus. E, no mais, sabe, filho, Deus é bom. Mesmo eu tendo O ofendido, não tenho dinheiro para muita coisa, mas sempre vêm alguns irmãos e me dão alimento, roupa... Mesmo na dor do homem, Cristo crucificado ali está. Você precisa ver isso na sua dor. Mesmo no maior sofrimento, a presença de Deus é real. Mesmo quando você está no pecado, para fazer algo errado, Deus usa uma forma de nos falar.

R – Você é mais um conformado. Ou então é um louco.

Eis que o homem que tinha coisas, mas que aqui ainda não tinha nada, está firmemente decidido a conquistar bens.

- Foco, força e fé... - Era o pensamento dele. Fé nele mesmo, em suas capacidades, em seus talentos. Ele não seria apenas mais um rostinho pobre conformado. Ele daria a cara à tapa. Ele quer o que os outros têm.

Atenção sociedade!
Escute o que vou falar!
Eis que aqui fala um pobre,
mas que um dia vai enricar
Não serei mais um conformado
Meu plano já está formado
Se você tem, também posso ter
Se duvida, olhe pra minha vida,
e veja o que vai acontecer”