sexta-feira, 23 de outubro de 2015

As primeiras coisas | O homem que tinha coisas #2

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Richard, diante da opressão do seu próprio coração que desejava possuir o que os outros tinham, se põe a trabalhar para realizar seus sonhos. Afinal, não se pode ficar esperando que os sonhos se realizem num passe de mágica, é preciso trabalhar para alcançar os objetivos.

Eis que chega mais um dia de aula. Richard está pensativo. Ele pensa numa forma de ganhar dinheiro. Como é jovem teme não conseguir muitas oportunidades de trabalho. E assim ele passou toda a sua manhã: vendo uma explicação, que pra ele era chata, e sonhando com seu celular novo.

Acaba a aula. Richard sai pensativo. Eis que o destino lhe faz esbarrar com um antigo amigo que há tempos não via.

R –E aê, Paulo, quanto tempo!
P – Pois é, sumido, estou aí na correria. E você?
R – Estou concluindo a escola. Aliás, estou à procura de alguma coisa para fazer. Preciso de um trabalho. Sabe de algo?
P -Poxa, brother, sei não. Bom, posso te dar uma ideia de você trabalhar para você mesmo.
R – Oxe, como assim?
P – Como eu faço. Eu trabalho pra mim. Sou autônomo. Por que você não pega alguma coisa pra revender na rua? Dá dinheiro. Se souber trabalhar dá pra ganhar muita grana. Tá vendo aquele carro ali? Comprei só vendendo coisas na rua.
R – Vixe, boto fé! Mas não levo jeito pra isso não.
P – Claro que leva. É só ter lábia. Eu te conheço, sei que é extrovertido, sabe conversar... Você se dará muito bem nesse ramo.
R – Será? - Perguntou Richard pensativo, se imaginando comprando seu carro, assim como Paulo, seu amigo que a tempo não via, mas que lhe trouxe uma luz.

Richard aceita a proposta do amigo e passa a vender doces na rua. Agora ele é um empreendedor. E como foi um bom aluno, sabe calcular sua margem de lucro e ao ver o preço que pegava os produtos com o preço de venda, calculou e viu que de fato dava pra fazer a vida. Claro, sabia da dificuldade, mas sabia que dos doces poderia juntar grana e investir em outros produtos mais lucrativos. Sua ambição estava o movendo.

E eis que Richard, após a vergonha inicial, se solta e começa a vender dentro de um ônibus:

-Atenção, atenção pessoal... Aqui é “vida loka” e quero dizer que com bala até os dentes. Olha a bala! - Alguns passageiros se assustam – e ele fala: - Olha a bala de menta, eucalipto... Alguns passageiros reclamam, mas diante do bom humor de Richard logo compram seus produtos.

Vendendo balas em ônibus, e outros produtos de porta em porta – pegou rápido o espírito empreendedor – logo conseguiu comprar o que queria: seu celular.

Em casa Richard exultava de alegria mexendo no celular, usando os aplicativos que todos usavam e comentavam. Agora Richard era feliz, ele tinha as coisas que seu coração almejava: dinheiro e o celular. Ele era o jovem mais ultra- mega- power da face da terra: já estava passado de ano na escola, era “independente” financeiramente com seu trabalho, tinha celular top... Ele era o cara.

Richard, o homem que tinha coisas, agora tem Whatsapp, e adiciona a bela garota dos seus sonhos, aquela que encanta todos os rapazes da escola. Richard joga conversa fora com ela. Richard se vê apaixonado por ela. E ele se enche de confiança, afinal, agora tem dinheiro de seu trabalho, celular...

Com toda fé em suas potencialidades ele chama a garota pra sair. Ela recusa seu pedido, lhe demonstrando total desinteresse nele. Richard fica arrasado. Mas ficar arrasado nem sempre faz com que a pessoa deixe de estar apaixonado. E a garota de seus sonhos, continua perturbando sua mente.

Em casa aquele garoto, contente com seu celular, demonstra irritação. Mexe no celular, dá umas risadas, mas logo demonstra irritação total. A paixão pela tecnologia passou... Parece que o celular novo, os aplicativos, a internet móvel, nada disso está preenchendo seu coração. E Richard se pergunta:

- Eu queria tanto dinheiro e esse celular. Agora tenho. Por que não sou feliz? O que é preciso fazer para ser feliz?

E em meio a este questionamento, ele se lembra da garota de seus sonhos. Logo conclui que precisa dela para ser feliz. Richard não se imagina vivendo sem ela. Então tenta mais um diálogo; e a garota fala “- no momento eu não estou pensando em namoro, sabe? Quero me dedicar aos estudos...” - Disse a garota que não estuda e mata aula.

-Poxa, ela não quer ninguém.

Certo dia, Richard saindo da escola e se preparando para seu turno de trabalho, observa a garota que ele julga ser o amor de sua vida entrando num carro rebaixado, dirigido por um “playboy”. Após ver suas demonstrações de afeto, Richard percebe que se trata de um namorado ou algo do tipo. E o pobre do Richard, rancoroso e com o coração pesado pensa consigo mesmo:

-Mas ela não disse que não queria ninguém? Agora entendi, para ter garotas como ela precisa ter carro e mais dinheiro. Se ele tem, eu também tenho.

Naquele dia meio atribulado, não conseguiu vender muito. Sua mente pertubava-lhe com aquela cena que viu.

No outro dia, sabe-se lá o porquê, Richard recebe um pequeno bilhete que dizia assim:

Richard, está acabando a escola. Talvez nunca mais nos veremos. Por isso gostaria de dizer que gosto muito de você, te admiro. Você começou a trabalhar para conquistar suas coisas, não se acomodou. Você sempre presente com sua família, sua mãe que é tão trabalhadora. Enfim, continue sempre assim. Nunca se corrompa. Que Deus te abençoe sempre. Espero que a gente continue se vendo após a escola...” e vendo os coraçõezinhos desenhados, Richard viu aí talvez alguma pretendente. Perguntando quem foi que escreveu, descobriu que foi a Chiara. Mas logo pensou:

-A Chiara? Credo, menina sem graça. Ela não é a garota dos meus sonhos...

Richard, o homem que tinha coisas, tinha um celular e dinheiro pra sobreviver, agora quer um carro e status pra aparecer e ter uma namorada. Ele tem até uma pretendente, mas por ele a rejeita.

Richard, o homem que tem coisas e mais coisas quer ter. Ele quer ser feliz, será que conseguirá? Onde ele chegará? A felicidade, Richard poderá comprar?


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