Richard segue aquela rua, para comprar a sua felicidade: seu primeiro carro. Embaraçado com os episódios que se sucederam, porém ansioso e eufórico pela compra do seu possante.
Prepotente
talvez tenha sido, afinal, sem experiência, foi comprar o carro
sozinho. Comprou o primeiro que se engraçou: um carro popular,
porém, com algumas alterações, vermelho, som, e estava dentro de
seu orçamento. - Com esse aqui vou fazer sucesso! - Pensou. Sem
exitar fez o negócio.
Como
não poucos jovens, Richard também era desses que ao ter um carro
com som deseja demonstrar seu péssimo gosto musical para toda a
vizinhança. Após fechar negócio, passar os documentos, nosso amigo
veio até sua casa ao som do pancadão. Se não estivesse ensurdecido
pelo som automotivo teria ouvido alguns dos gritos e comentários que
fizeram sobre ele: - “Mas é uma anta mesmo! Parece que nunca andou
de carro. Quer se amostrar” “Ô imbecil! Comprou o carro mas não
alugou meus ouvidos pra me obrigar ouvir essas merdas!” Fora as
caras retorcidas. Mas Richard, em seu coração, estava abafando. Ele
achava que as pessoas estava o admirando. Ele se sentia um Michael
Shumaker ganhando mais um prêmio de Fórmula 1, recebendo os
aplausos da plateia.
Mas
para a sorte de Richard – se é que podemos chamar de sorte –
sempre existem outras pessoas que partilham dos mesmos maus gostos. E
eis que ao rodar de bobeira pela cidade só para se amostrar, o carro
vira o imã que ele esperava: atrai seu novo objeto. Tratava-se de
uma jovem, atraída ou pelo carro ou pela música ruim, joga seu
olhar pra Richard. Este, de óculos escuro, abaixa levemente com um
sorriso sínico e pergunta:
-
Quer dar uma volta?
A
jovem entra e vão passeando. Richard está certo de ter mais um
objeto que o fará feliz aquele dia. E que felicidade: está
motorizado e bem acompanhado. Mas enquanto Richard dirigia, ambos
sentem um cheiro estranho.
-
Que cheiro é esse? - Ora, como vou saber, o carro é seu? Respondeu
a garota. E.. o carro trava, balança... Deu pau.
-
O que aconteceu? Perguntou a jovem. - Não sei. Acho que quebrou. Mas
como? É novo!
-Ai!
que mico heim Richard? To fora, quando tiver um carro que ande a
gente passeia de novo.
-
Não, volte! Deve ser algo simples. Vamos sair...
-Sai
com o mecânico! E riu diante de alguns expectadores.
Richard
dá uma bufada de cara vermelha de raiva. Era inacreditável! Em
segundos perdeu suas duas fontes de felicidade: o carro (andando) e a
mulher. Bufou mais ainda quando chegou um homem. Não, não foi um
homem a lhe assediar nem mesmo um assalto, mas o homem funcionário
da empresa que reboca carro. Afinal, eis mais um gasto.
No
mecânico o pobre Richard parecia não acreditar. O mecânico falava
as peças que deveria trocar como o técnico da seleção convocando
os atletas. Quanto dinheiro. O inexperiente comprou pela lataria,
mas, como diz o ditado popular, quem vê cara não vÊ coração; e
no caso de Richard, não via motor, parte elétrica, não via nada do
interior do carro, só a lataria e o som.
Nem
precisa dizer o quanto ficou arrasado. Sem dinheiro, sem carro, sem
alguém consigo. Logo pensou: - MACUMBA AAA! Só pode ser macumba dos
invejosos! Como é possível isso!?
Teve
que deixar o carro no mecânico alguns dias. Pagou o prejuízo com
suas últimas reservas. Ao sair foi abastecer o carro e, outra bufada
irada:
-
É O QUÊ? 4R$ o litro da gasolina!? Vocês estão loucos?
-Desculpe,
senhor, mas a culpa não é nossa. Infelizmente isso não é ficção,
a presidente está destruindo com o país. Subiu tudo, a gasolina
acompanhou.
-Mas
que idiota! Como que eu vou manter o carro com a gasolina a este
preço?
Abriu
a carteira, pegou seus 20R$ que lhe sobrara (e ainda catou as
moedinhas), e colocou seus míseros cinco litros de gasosa. Saiu sem
som, sem amostragens, direto pra casa para garantir que a gasolina
desse ao menos para isso.
Após
chegar em casa, liga a TV, e o noticiário já avisava: - Atenção
motorista! Lembre-se que este mês começam a chegar o IPVA dos
carros com placa... - NÃÃÃÃO! - Gritou Richard ao lembrar que seu
carro ainda não tinha IPVA pago. -Mais uma dívida! Inferno! Droga!
Ele
pensou ter comprado a fonte de sua felicidade, mas o que comprou foi
uma bomba que está destruindo-o por dentro de tanto ódio.
-Como
que eu vou sair desse jeito? Como vou manter carro com a gasolina a
esse preço? Como vou pagar IPVA? O que me sobrou usei pra consertar
este carro que está me dando dor de cabeça. - Irado dá um chute na
sua estante, que balança, e de lá cai um cartão. Ele pega e para
sua admiração parece ter encontrado a solução para todos os seus
problemas. Pega o telefone, disca...
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