O
homem que tinha coisas queria o mundo conquistar. Sempre em busca de
seus sonhos, queria a todo custo realizá-los, pois, acreditava
piamente que conquistando o que seu coração desejava, seria feliz.
O
homem que tinha coisas, muita coisa conquistou. O homem que tinha
coisas chama-se Richard, um grande sonhador. Richard é filho de Dona
Clara – uma senhora humilde, simples, trabalhadora - que cria os
cinco filhos sozinha após ter ficado viúva. E aqui começa alguns
embates na vida de Richard, que tinha amor de mãe, mas queria
mais... Queria coisas.
Richard
chega da escola um pouco agitado, se aproxima da mãe, que estava a
preparar o almoço, e inicia um diálogo:
R
– Mãe, eu queria pedir algo pra senhora... Eu quero um celular...
Um celular desses novos.
DC
– Celular? Meu filho! Você sabe que não tenho condições.
R
– Mas todos os meus amigos têm. Por que eles podem ter e eu não?
DC
– Meu filho, eles eu não sei. Mas nós, nós somos pobres.
R
– E por que somos pobres?
Eis
que surge um silêncio gritante. Dona Clara falou; não com palavras,
mas seus olhos lacrimejantes, transmitindo a dor da pergunta do
filho, falavam. Mas Richard não se satisfez e prosseguiu o diálogo:
R-
Pobreza! Que droga ser pobre! Porque o Fábio pode ter um celular e
eu não? É pecado ter as coisas? Por que temos que nos contentar em
não ter nada?
DC
– Nós somos pobres porque temos uma riqueza maior
R
– Qual sua riqueza, mãe? Trabalhar igual uma condenada fazendo
faxina e viver de quase nada? Não temos muitas coisas...
DC
– Não temos riquezas materiais, porque a minha riqueza é você e
seus irmãos. Eu não preciso de coisas! Não mesmo, meu filho. Eu
preciso do amor para todos os dias levantar às 4h para labutar para
que você e seus irmãos não tenham coisas, mas tenham o alimento de
cada dia. Perdoe-me por não dar-te tudo que queres, mas o que posso
te dou: a graça de viver, a educação, e o mais importante: a fé.
R
– A fé, a fé – responde Richard com voz embargada querendo
chorar de birra – fé em quem? Por que Deus permite a pobreza? É
errado ter coisas?
DC
– Quer ter coisas? Deus te deu saúde. Comece a trabalhar e lute
para tê-las. Já tem 17 anos, pode muito bem fazer algo. Não fique
desejando as coisas dos outros, trabalhe.
R
– Mas, mas mãe... Até eu conseguir o dinheiro do celular...
DC
– Que triste, Richard! Como estou decepcionada. Nunca imaginei que
você iria ser tão apegado aos bens materiais, ao ponto de nem se
quer dar valor a própria mãe pelo esforço para te educar. Seu pai
ficaria muito ofendido.
Richard
sai de lá chorando. Mas havia um misto de sentimentos. Não sabia se
chorava porque de fato viu que não valorizara o esforço de sua mãe,
ou porque saiu sem esperança no celular.
E
na rua Richard fica a olhar para o mundo. O mundo que tem meninos sem
pai, sem mãe, sem comida, sem amor. Richard não tinha tudo que
queria, mas tudo que precisava ele tinha. Ele tinha uma mãe que o
amava, tinha irmãos, tinha o alimento de cada dia. Mas a cegueira o
fez tão incoerente, que ao sair para rua, ele não via o mendigo
faminto, mas enxergava com olhos altivos o empresário com celular
última geração; não via o pobre trabalhador que, a exemplo de sua
mãe, ralava trabalhando, e pegava ônibus lotado, mas enxergava o
proprietário de um carro de luxo, e ali deleitava seu coração no
desejo de possuir tais bens. Ele não via quem estava pior que ele.
Richard só olhava para quem supostamente estava acima dele; achando
que eram felizes pela ostentação ou simplesmente pela posse de
bens.
Nessa
saída maluca, atordoado desejando coisas, Richard vê uma faixa na
rua que o intriga: as
pessoas podem ter coisas, mas será que têm amor?
Nesse
momento Richard olha para o Céu e brada:
-Tu
existes? Se existe porque permite a pobreza? Heim, fala aí! Por que
me permite sofrer desse jeito? Ainda dizem que tu és um Deus de
amor. Que amor é esse!? É pecado ter um celular? É pecado, por
acaso? É pecado ter um carro? Por que só eu não posso? Heim, Deus!
Por quê? Por que o Fábio tem um celular e eu não? Por que aquelas
pessoas, por quem passei agora, tem carrões e eu não? Por que,
Deus, por que elas são felizes e eu não! Por quê? Por que você me
odeia? - E se pôs a chorar...
Estava
tão abatido que atraiu uma pessoa para lhe ajudar.
P
– Meu irmão, precisa de ajuda? Posso te ajudar?
R-
hã? O que!? - Brada surpreso, afinal, essa pessoa é um morador de
rua – Você me ajudar?
P
– Se eu puder, é claro...
R
– Como você poderia me ajudar? Normalmente é você quem vive
pedindo ajuda – diz debochadamente.
P
– As pessoas me ajudam com o que tem. Normalmente uma esmola. Eu as
ajudo com o que tenho. Tenho a minha fé num Deus que não
abandona...
R
– Deus... Deus existe? Como pode falar de Deus se Ele te permite
viver assim?
P
– Bendito seja Ele, pois me permitiste viver em meio a um mundo que
só se fala de morte. Meu filho, eu moro na rua há 10 anos e a cada
dia posso contemplar o cuidado de Deus.
R
– Que cuidado? Olha pra você!
P
– sim, eu olho. E é por isso mesmo que disse isso. Às vezes, meu
filho, culpamos a Deus pela situação que nos encontramos. Mas nossa
vida não é pra essa terra. Nós somos chamados para a vida eterna.
Essa vida é passageira. Tudo passa, mas só Deus basta. Não importa
a pobreza que vivamos, o que importa é o amor de Deus, sim, eis
nossa riqueza. Além do mais, a pobreza material, a miséria, não é
vontade de Deus. Muitos culpam-O, mas não é vontade dEle. Sei que
não é o seu caso, não é meu jovem? Mas veja bem: eu estou nessa
situação por minha própria culpa. Revoltei-me com meus pais, pois
queria ser rico. Fugi de casa, fui trabalhar fora... Ganhei dinheiro.
Com o dinheiro me senti vazio, conheci o álcool, as drogas... Até a
mulher que era o amor da minha vida a perdi para o mundo mau. Só
quem não me abandonou foi Deus. Vim parar nas ruas. Mas não por
culpa de Deus, mas porque o meu deus foi o dinheiro, as coisas, o
poder... Neles me perdi e vim parar aqui. Que culpa tem Deus se eu
desenhei minha história errada? Que culpa tem Deus se os governantes
roubam o pão dos pobres para enricar a si mesmos e seus poderes
diabólicos de opressão? Deus nos deu livre arbítrio. Se há alguém
em vida de miséria, alguém foi livre para ajudá-la ou fazer com
que continuasse e/ou que outros aí entrassem. Deus usa as mãos das
pessoas para ajudar os que precisam. Mas se as pessoas não querem, a
culpa não é de Deus. E, no mais, sabe, filho, Deus é bom. Mesmo eu
tendo O ofendido, não tenho dinheiro para muita coisa, mas sempre
vêm alguns irmãos e me dão alimento, roupa... Mesmo na dor do
homem, Cristo crucificado ali está. Você precisa ver isso na sua
dor. Mesmo no maior sofrimento, a presença de Deus é real. Mesmo
quando você está no pecado, para fazer algo errado, Deus usa uma
forma de nos falar.
R
– Você é mais um conformado. Ou então é um louco.
Eis
que o homem que tinha coisas, mas que aqui ainda não tinha nada,
está firmemente decidido a conquistar bens.
-
Foco, força e fé... - Era o pensamento dele. Fé nele mesmo, em
suas capacidades, em seus talentos. Ele não seria apenas mais um
rostinho pobre conformado. Ele daria a cara à tapa. Ele quer o que
os outros têm.
“Atenção
sociedade!
Escute
o que vou falar!
Eis
que aqui fala um pobre,
mas
que um dia vai enricar
Não
serei mais um conformado
Meu
plano já está formado
Se
você tem, também posso ter
Se
duvida, olhe pra minha vida,
e
veja o que vai acontecer”
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