quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Por que ele tem e eu não? | O homem que tinha coisas #1

O homem que tinha coisas queria o mundo conquistar. Sempre em busca de seus sonhos, queria a todo custo realizá-los, pois, acreditava piamente que conquistando o que seu coração desejava, seria feliz.

O homem que tinha coisas, muita coisa conquistou. O homem que tinha coisas chama-se Richard, um grande sonhador. Richard é filho de Dona Clara – uma senhora humilde, simples, trabalhadora - que cria os cinco filhos sozinha após ter ficado viúva. E aqui começa alguns embates na vida de Richard, que tinha amor de mãe, mas queria mais... Queria coisas.

Richard chega da escola um pouco agitado, se aproxima da mãe, que estava a preparar o almoço, e inicia um diálogo:

R – Mãe, eu queria pedir algo pra senhora... Eu quero um celular... Um celular desses novos.
DC – Celular? Meu filho! Você sabe que não tenho condições.
R – Mas todos os meus amigos têm. Por que eles podem ter e eu não?
DC – Meu filho, eles eu não sei. Mas nós, nós somos pobres.
R – E por que somos pobres?

Eis que surge um silêncio gritante. Dona Clara falou; não com palavras, mas seus olhos lacrimejantes, transmitindo a dor da pergunta do filho, falavam. Mas Richard não se satisfez e prosseguiu o diálogo:

R- Pobreza! Que droga ser pobre! Porque o Fábio pode ter um celular e eu não? É pecado ter as coisas? Por que temos que nos contentar em não ter nada?
DC – Nós somos pobres porque temos uma riqueza maior
R – Qual sua riqueza, mãe? Trabalhar igual uma condenada fazendo faxina e viver de quase nada? Não temos muitas coisas...
DC – Não temos riquezas materiais, porque a minha riqueza é você e seus irmãos. Eu não preciso de coisas! Não mesmo, meu filho. Eu preciso do amor para todos os dias levantar às 4h para labutar para que você e seus irmãos não tenham coisas, mas tenham o alimento de cada dia. Perdoe-me por não dar-te tudo que queres, mas o que posso te dou: a graça de viver, a educação, e o mais importante: a fé.
R – A fé, a fé – responde Richard com voz embargada querendo chorar de birra – fé em quem? Por que Deus permite a pobreza? É errado ter coisas?
DC – Quer ter coisas? Deus te deu saúde. Comece a trabalhar e lute para tê-las. Já tem 17 anos, pode muito bem fazer algo. Não fique desejando as coisas dos outros, trabalhe.
R – Mas, mas mãe... Até eu conseguir o dinheiro do celular...
DC – Que triste, Richard! Como estou decepcionada. Nunca imaginei que você iria ser tão apegado aos bens materiais, ao ponto de nem se quer dar valor a própria mãe pelo esforço para te educar. Seu pai ficaria muito ofendido.

Richard sai de lá chorando. Mas havia um misto de sentimentos. Não sabia se chorava porque de fato viu que não valorizara o esforço de sua mãe, ou porque saiu sem esperança no celular.

E na rua Richard fica a olhar para o mundo. O mundo que tem meninos sem pai, sem mãe, sem comida, sem amor. Richard não tinha tudo que queria, mas tudo que precisava ele tinha. Ele tinha uma mãe que o amava, tinha irmãos, tinha o alimento de cada dia. Mas a cegueira o fez tão incoerente, que ao sair para rua, ele não via o mendigo faminto, mas enxergava com olhos altivos o empresário com celular última geração; não via o pobre trabalhador que, a exemplo de sua mãe, ralava trabalhando, e pegava ônibus lotado, mas enxergava o proprietário de um carro de luxo, e ali deleitava seu coração no desejo de possuir tais bens. Ele não via quem estava pior que ele. Richard só olhava para quem supostamente estava acima dele; achando que eram felizes pela ostentação ou simplesmente pela posse de bens.

Nessa saída maluca, atordoado desejando coisas, Richard vê uma faixa na rua que o intriga: as pessoas podem ter coisas, mas será que têm amor?

Nesse momento Richard olha para o Céu e brada:
-Tu existes? Se existe porque permite a pobreza? Heim, fala aí! Por que me permite sofrer desse jeito? Ainda dizem que tu és um Deus de amor. Que amor é esse!? É pecado ter um celular? É pecado, por acaso? É pecado ter um carro? Por que só eu não posso? Heim, Deus! Por quê? Por que o Fábio tem um celular e eu não? Por que aquelas pessoas, por quem passei agora, tem carrões e eu não? Por que, Deus, por que elas são felizes e eu não! Por quê? Por que você me odeia? - E se pôs a chorar...

Estava tão abatido que atraiu uma pessoa para lhe ajudar.
P – Meu irmão, precisa de ajuda? Posso te ajudar?
R- hã? O que!? - Brada surpreso, afinal, essa pessoa é um morador de rua – Você me ajudar?
P – Se eu puder, é claro...
R – Como você poderia me ajudar? Normalmente é você quem vive pedindo ajuda – diz debochadamente.
P – As pessoas me ajudam com o que tem. Normalmente uma esmola. Eu as ajudo com o que tenho. Tenho a minha fé num Deus que não abandona...
R – Deus... Deus existe? Como pode falar de Deus se Ele te permite viver assim?
P – Bendito seja Ele, pois me permitiste viver em meio a um mundo que só se fala de morte. Meu filho, eu moro na rua há 10 anos e a cada dia posso contemplar o cuidado de Deus.
R – Que cuidado? Olha pra você!
P – sim, eu olho. E é por isso mesmo que disse isso. Às vezes, meu filho, culpamos a Deus pela situação que nos encontramos. Mas nossa vida não é pra essa terra. Nós somos chamados para a vida eterna. Essa vida é passageira. Tudo passa, mas só Deus basta. Não importa a pobreza que vivamos, o que importa é o amor de Deus, sim, eis nossa riqueza. Além do mais, a pobreza material, a miséria, não é vontade de Deus. Muitos culpam-O, mas não é vontade dEle. Sei que não é o seu caso, não é meu jovem? Mas veja bem: eu estou nessa situação por minha própria culpa. Revoltei-me com meus pais, pois queria ser rico. Fugi de casa, fui trabalhar fora... Ganhei dinheiro. Com o dinheiro me senti vazio, conheci o álcool, as drogas... Até a mulher que era o amor da minha vida a perdi para o mundo mau. Só quem não me abandonou foi Deus. Vim parar nas ruas. Mas não por culpa de Deus, mas porque o meu deus foi o dinheiro, as coisas, o poder... Neles me perdi e vim parar aqui. Que culpa tem Deus se eu desenhei minha história errada? Que culpa tem Deus se os governantes roubam o pão dos pobres para enricar a si mesmos e seus poderes diabólicos de opressão? Deus nos deu livre arbítrio. Se há alguém em vida de miséria, alguém foi livre para ajudá-la ou fazer com que continuasse e/ou que outros aí entrassem. Deus usa as mãos das pessoas para ajudar os que precisam. Mas se as pessoas não querem, a culpa não é de Deus. E, no mais, sabe, filho, Deus é bom. Mesmo eu tendo O ofendido, não tenho dinheiro para muita coisa, mas sempre vêm alguns irmãos e me dão alimento, roupa... Mesmo na dor do homem, Cristo crucificado ali está. Você precisa ver isso na sua dor. Mesmo no maior sofrimento, a presença de Deus é real. Mesmo quando você está no pecado, para fazer algo errado, Deus usa uma forma de nos falar.

R – Você é mais um conformado. Ou então é um louco.

Eis que o homem que tinha coisas, mas que aqui ainda não tinha nada, está firmemente decidido a conquistar bens.

- Foco, força e fé... - Era o pensamento dele. Fé nele mesmo, em suas capacidades, em seus talentos. Ele não seria apenas mais um rostinho pobre conformado. Ele daria a cara à tapa. Ele quer o que os outros têm.

Atenção sociedade!
Escute o que vou falar!
Eis que aqui fala um pobre,
mas que um dia vai enricar
Não serei mais um conformado
Meu plano já está formado
Se você tem, também posso ter
Se duvida, olhe pra minha vida,
e veja o que vai acontecer”


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