Da
pomposa vida, à ruína total. Eis como encontra-se Richard nesse
momento. A chaga viva vai perambulando pela noite. Richard anda com
uma camisa rasgada, suja, uma calça
jeans com fiapos, uma sandália, e porta um cachimbo artesanal feito
de latinha. Estava a iniciar sua vida, ou sua morte, no uso do crack.
É bem verdade que desde a época pomposa já era viciado no álcool,
cocaína, por exemplo. Mas perdeu o controle de tudo. Ele perdeu
tudo.
Ele
anda pela rua, seu odor repele as pessoas. Ele que outrora causava
admiração, hoje causa medo. Todos acham que é um assaltante. Todos
tratam-lhe como um lixo. Ele é agora mais um entre milhões,
escondidos, esquecidos, rejeitados. Mais um que tem uma história.
Mas Richard, neste caso, tem uma história. Todos tem. Mas a história
de Richard é que ele quis ter coisas.
Ele
começa a andar pela cidade, dá voltas sem direção, e eis que
surge uma figura espantosa para Richard. Seus olhos que costumavam
ficar vermelhos por causa do uso da droga, enchem-se de lágrimas. O
que terá causado tanto espanto a Richard? Minha nossa! Richard está
diante de seu passado. Há cerca de 25 metros de Richard encontra-se
Chiara, a garota da escola que manifestara afeto por ele e deu-lhe
conselhos. Estava Chiara bem-vestida,
com quatro crianças ao seu redor, uma menina de 6, e três meninos
de 5, 3 e 2 anos respectivamente; e com a mão dada a um homem boma
pinta, bem-vestido.
Ambos davam um belo sorriso, mostrando sua felicidade. Ele que
outrora questionava sobre a felicidade, vê agora uma família com a
felicidade estampada. A Chiara, menina sem graça para ele, agora
mostra toda a graça de um casamento. Ele percebe que não são
ricos, pois o local – esqueci-me de contar – era uma parada de
ônibus. Parece lhe vim um clarão na alma. O que fiz da vida? –
questiona-se Richard. Eu tive tudo, ela nada, mas agora vejo, no
entanto, que não tenho nada, e ela tem tudo.
Richard,
parado, correndo lágrimas nos olhos, um sentimento no coração, uma
mistura de libertação com remorso se apoderava dele. Inevitável
foi o cruzamento de olhares. Richard e Chiara cruzaram os olhares.
Chiara olha, assusta-se,
abraça o marido, que também olha para Richard com olhar
desconfiado. Ela coloca a mão na boca, espantada. Corre-lhe uma
lágrima. Parece não acreditar que aquele é o seu amigo de
infância.
-Richard!?
- exclamou Chiara.
Mas
Richard sai correndo, chorando, tropicando. Cai no chão, rala-se.
Levanta. Corre. Esconde-se num beco. E está ali novamente: ele, seu
cachimbo, sua droga, e seu passado. E o futuro? Richard só pensa no
passado.
Olha
adiante, vê uma Igreja. Nossa Senhora das Misericórdias, chama-se a
Igreja. Richard olha aquela imagem da Pietá, chora, e questiona-se:
haverá misericórdia para um verme como eu?
***
Passado
algum tempo, Richard estava morto. Acabou-se. É encontrado morto.
“Mais um morador de rua morre. Tirem-no daqui!” - gritou o dono
de uma loja que ficava próximo ao beco.
Chiara
o reconhece. Chora. Mas, como amiga, cuida dos preparativos do
sepultamento do amigo de escola.
Ao
procurar o Padre, qual surpresa. O Padre, Antonio, conhecia tanto
Chiara, como Richard.
Tinham estudado juntos. Ficou boquiaberto. Decidiu fazer mais que o
velório. Richard queria coisas, mas ganhou algo que, não
compreendeu antes, mas agora terá, uma Santa Missa por ele. Ele
teria uma Missa de corpo presente.
Tudo
arrumado: corpo devidamente arrumado, no caixão. Colocado na Igreja.
O padre se paramenta. A Igreja, por se tratar de domingo, estava
lotada. Sim, é estranho uma Missa de corpo presente no domingo no
horário comum dos fiéis, mas o sacerdote assim quis. Paramentado,
coroinhas prontos. Segue o rito. Pede-se perdão dos pecados... Uma
velhinha olha pro caixão e berra. Uma criança corre, esbarra no
caixão... e o falatório com o caso. Outro vai ver o morto e grita
traumatizado. Mas em meio ao desconforto, Padre Antonio vai proclamar
o Evangelho.
Padre:
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Povo:
Glória a Vós, Senhor!
Padre:
Naquele
tempo Jesus disse aos seus discípulos: “Não ajunteis para vós
tesouros na terra, onde a ferrugem e a traças corroem, onde os
ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde
não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não
furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está
o teu coração. O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo
o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo
o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas,
quão espessas deverão ser as trevas!”. Palavra da Salvação!
Povo:
Glória a Vós Senhor!
Padre
Antonio pega aquele microfone, dá alguns passos. Tem a face
resplandecente. Alguma coisa diz que não será um sermão qualquer.
Parece estar tomado de uma força maior. Reza uma Ave Maria. Abre,
então, a boca e parece um Leão. Parece a voz de Deus a bradar ao
povo. Eis o sermão trovejante de Padre Antonio naquela Missa de
corpo presente:
Amados
filhos e filhas da Santa Igreja Católica, graça e paz! Quero hoje
falar-vos a verdade para a vossa salvação. Em outro trecho do
Evangelho, que não este que lemos hoje, Jesus vai falar: do que
adianta o homem conquistar o mundo inteiro se vier a perder a sua
alma? Oh, sim, amados filhos! De que adianta? O que temos aqui hoje
na Igreja? Um velório? Um corpo? Mas e a alma? Onde estará a alma
deste infeliz? Conheço-o. Estudamos juntos. E diante da sua vida,
pergunto, ó Deus, onde estará a alma deste homem? Conquistou tantas
coisas na vida. Em vida mesmo perdeu todas. Mas terá perdido também
sua alma? Ó, vós que me escutais, quanto tempo tens vós para vos
converterdes? Este infeliz não sabia o dia nem a hora. Não sabemos
se se arrependeu ou não. Mas e vós, que vindes a Missa como mero
preceito, que queres viver nos prazeres, nas orgias, na conquista de
bens, colocando a felicidade nas coisas – como fizera hoje que está
no caixão -, e vós, não vos arrependereis de vossa má conduta?
Até quando ides brincar com a vossa salvação? Hoje está Richard,
amanhã estará você! Você tem garantias de que não? Entrega-te a
Deus hoje. Não deixe para amanhã. Quando foi a última vez que você
se confessou? Jesus disse aos Apóstolos: Aqueles
a quem perdoardes os pecados eles lhe serão perdoados; aqueles a
quem retiverdes, lhe serão retidos. Estou
todos os dias aqui para atender confissões. Mas vós não vindes.
Vós ides pro mundo, pras baladas. Vinde, as vezes, procurar apoios
políticos, honras, alguma coisa. Mas e a vossa mudança de vida?
Quereis o mesmo fim de Richard?
Ah,
Richard. Meu amigo de escola. O que fizestes da vida? Por que não
aproveitastes o tempo que Deus vos deu para mudar?
Sabe,
meus filhos, eu iria fazer uma homilia comum dos velórios. Apesar de
tudo, diria eu, foi uma boa pessoa. Mas, um fogo tomou conta de mim.
Sabendo da vida de Richard, devo ser sacerdote e conduzir vós,
filhos que Deus me confiou, ao bom caminhos. Ao ver o Evangelho de
hoje, não poderia deixar de falar o que se deve falar. É
providencial. É a vida de Richard aqui.
Nós
vivíamos numa região pobre. Sim, é verdade. Mas tínhamos
oportunidades a escolher. Richard, no entanto, embora tenha procurado
ser honesto no início, passou a ser ambicioso. Trabalhava vendendo
doces, depois cresceu o olho. Ele queria ajuntar tesouros aqui. Tudo
começou com a praga de um celular. Depois desejava tudo: carros,
mansões, mulheres... Ah, Richard entrou numa devassidão de vida.
Aproveito que tem um caixão aqui presente, com o corpo de Richard, e
lembro-vos do episódio da vida de Santo Antonio de Pádua. Certa vez
chamaram o santo para o velório de um rapaz que havia falecido.
Santo Antonio, em
vez de
falar coisas bonitas para a família, começou a pregar a conversão
e, para espanto de todos, disse que o jovem havia se condenado. Ante
o espanto, o santo disse para irem até o baú de tesouros do jovem e
veriam a prova. De fato, foram até o baú de tesouros daquele jovem
e, para espanto de todos, junto aos tesouros, estava o coração
daquele jovem. Deus assim o permitiu para provar a veracidade das
palavras do Evangelho: onde está o teu tesouro, aí está o teu
coração. E o coração de Richard estava no dinheiro, nas bebidas,
drogas, nas mulheres. Mulheres... e a mulher que cuidou dele, sua
mãe. Onde está? Mãe de Richard, estás aí? Não, não está. Ela
já faleceu. Eu era diácono quando aconteceu e acompanhei o velório.
E Richard? Nem passou por perto. Não apareceu para um último adeus
a mãe. Já vivia nas mansões, rico, torrando o dinheiro do super
empresário
que praticamente lhe adotara. Mas àquela que sofreu dores de parto
e, dores de vida, para criá-lo com os irmãos, esta alimentou-se do
desprezo de seu filho. Na doença, não visitou. Na morte, não
estava junto. No velório, nem apareceu. Fazia anos que ele não
mandava ajuda alguma para a mãe e a família. Ele nas mansões, a
mãe nas “solidões”.
Passou
a viver com as prostitutas. São Paulo fala, meus filhos, Não
sabeis que vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, então, os
membros de Cristo e os farei membros de uma prostituta? De modo
algum! No
entanto, Richard fez. Que infelicidade. Ali estava o coração de
Richard: no dinheiro que quanto mais tinha mais queria ter, não se
saciava. Tinha carro, mas queria mais. Pois seu coração no amor
impuro das paixões mundanas. As mulheres eram a sua felicidade. E
quantas e quantas vezes Richard uniu-se as prostitutas. Isso quando
não fez pior. Estava tão cego buscando ter coisas nessa terra, que
chegou ao ponto de fazer das pessoas coisas. Quantas moças ingênuas
ele não enganou? Uma mulher não era, para ele, uma filha de Deus,
que merece ser amada, respeitada, honrada. Uma mulher é tão sagrada
que chega-se ao ponto de o homem ter ato quase que de culto – de
dulia. Tamanha reverência deve-se ter. Tamanho temor de Deus. Pois a
mulher é o santuário da vida. Mas Richard? Fez dessas mulheres seus
objetos sexuais. Seus intrumentos de prazer. As mulheres para ele
tornaram-se chilets que após mascados foram para a lixeira. Richard
cometeu o horrível ato de ter abortado o próprio filho. Que
infelicidade! Após fazer das mulheres seus objetos, seu próprio
filho tornou-se uma coisa descartável. A mãe dessa criança morreu
após depressão. E Richard? Se achando o tal. O rei das coisas. Ele
foi um homem casado. Bem casado. Pelo menos, apesar de também ter
usado sua mulher, enganado-a, feito dela uma coisa. Sim, era tudo
ilusão, era de fachada. Mas ela era uma mulher virtuosa. Suportava
tudo. É a viúva que chora lá atrás... (todos olham espantados,
cochicham). Mas Richard fez suas escolhas. Sua felicidade não estava
nos valores do Evangelho. Não era Cristo. Seu coração não estava
em Jesus, mas no mundo e no que ele pode oferecer. Mas o diabo é
assim, dá com uma mãe e, rapidamente, tira com a outra.
Prometeu-lhe a felicidade, mas, em troca, só lhe veio amargura. São
João da Cruz dizia que por prazeres temporários sofrem-se tormentos
eternos. Foi temporário o prazer de Richard, e agora, será que está
na glória ou nos tormentos? Richard teve seus prazeres, mas
evaporaram. Já em vida pode experimentar a agonia do inferno. Pois
só em Jesus Cristo temos a felicidade perfeita. Quantos de vós,
aqueles que já encontraram Jesus, sabem que mesmo sendo pobres, em
condições complicadas, muitas vezes sem fartura à mesa, mas tendo
Jesus, vós sabeis que tendes forças para suportar a labuta do dia a
dia, que tem ânimo, tem felicidade, pois sabem que nós não
nascemos pra essa vida, a nossa pátria é o Céu. É lá onde vamos
morar pelos séculos dos séculos. Amém? Amém Igreja? (todos dizem
amém).
Mas
vós podeis dizer: mas Deus podia ter enviado sinais. Ora, e não os
enviou? Quantas vezes Deus se manifestara na vida dele como um
mendigo dando-lhe respostas? Mas ele sempre quis alimentar os
apetites da carne, e não os do espírito. Até na forma de uma
criança de olhos azuis Deus manifestara-se na vida de Richard, mas
ele não quis a Deus, quis a morte. Se ele se condenou, não foi por
falta de esforço de Deus. Mas foi por sua própria recusa. Sempre
que ele dava um passo a mais na vida de escravidão do pecado, Deus
dava-lhe um sinal. Mas ele preferiu a felicidade passageira. Porque o
seu coração estava no tesouro passageiro da terra. Não podeis
servir a dois senhores. Ou sois de Cristo, ou do mundo. Escolhe,
pois, hoje, a Cristo e sereis salvos.
Morreu,
na miséria do pecado. Mas, Jesus diz para Santa Faustina, a Apóstola
da Misericórdia, que até o último segundo da vida Ele estará
tentando entrar no coração da pessoa para salvá-la. Nós não
sabemos como morreu ele: estava em estado de graça? Arrependeu-se?
Salvou-se ou condenou-se? Eu não sei. Mas olhai todos para este
caixão: vede o fim do homem! Pra que buscar coisas? Sei que muitos
de vós que me escutais hoje também são homens e mulheres que tem e
que buscam coisas, que fazem as pessoas de coisas, objetos
descartáveis, fontes de prazer. Olhe para este caixão: eis o fim do
homem. Do pó viestes, para o pó voltarás! O que ele está levando?
Nada. Para que seu orgulho? Pra que todo seu dinheiro? Pra que tantas
roupas luxuosas? Pra que tantos sapatos? Pra que tantos carros? Pra
que tantas casas? Pra que tanta coisa inútil, se não tens o
essencial: Jesus Cristo. Você vai morrer e, se não perder tudo
antes, como Richard, o que levará? Levará apenas a alma manchada
pelo teu egoísmo, que não quis partilhar dos dons que Deus te deu.
Tens muito dinheiro? Ora, não ajudavas nenhum pobre, porquê? Tens
casas e casas? Nunca acolhestes um peregrino? Tens tudo, que Deus
permitiu que tivesse, mas usa apenas para o bel prazer. EGOÍSTA! Vai
levar o que? Aqui acabou o orgulho, a vaidade, a soberba do homem que
tinha coisas. Não numa ferrari, mas num caixão de madeira. Como
acabará a tua? Da mesma maneira. Jesus está hoje convidando-te para
confessar os pecados. Busque um padre e confesse toda a tua vida
podre. Deus pode e quer te perdoar. Ele disse para Santa Faustina que
Sua Misericórdia é o Seu maior atributo e que, acredite, nossos
pecados todos juntos comparados à Sua Misericórdia, é menor que
uma gota compara com o mar. Tende confiança. Confesse tudo. Confesse
teus pecados, das vezes que usou as pessoas, das vezes que teve
relação sexual antes do casamento, os adultérios, a embriaguês,
os roubos, corrupções, tudo. Deus perdoa tudo. Basta que quereis.
Não, não deixeis pra depois. Talvez Richard tenha deixado pra
depois, e eis que o que veio depois foi a morte. O tempo da graça,
no entanto, é agora. Agora é a hora de mudar de vida. Se deres hoje
um passo em direção a Deus, Ele dará sete em tua direção. Ou
antes, pulará ao vosso pescoço, vos dará um beijo no rosto, e
dirá: quanto eu esperei por ti, meu filho! Minha filha! Eu ansiava
pela tua volta. Que bom que voltou. Nâo, não me fales do tempo em
que eras homem ou mulher de coisas, vamos reescrever uma nova
história de amor... Eis o que Deus vos fala hoje. Eis o que Deus
também me fala.
Mas,
antes de encerrar essa homilia e dar continuidade no Santo Sacrifício
da Missa, onde consagrarei o Corpo e o Sangue do Senhor Jesus Cristo.
Recordo-me agora de São Jerônimo que pregava o Evangelho numa
região e uma mulher o importunava. Eis que ele declara para a mulher
que ela morreria por ter zombado do Evangelho. Passado alguns dias
ele vê uma movimentação numa casa, vai ver e, de fato, era aquela
mesma mulher, por nome Catarina, que havia zombado do Evangelho, e
agora estava morta. São Jerônimo, tomado pelo Espírito de Deus,
disse: Catarina, onde está a tua alma!? Catarina, onde está a tua
alma? Nada aconteceu. Porém, o santo tomado de poder de Deus, disse:
Catarina, em nome de Jesus Cristo, responda-me! Onde está a tua
alma? Imediatamente a jovem levantou-se, e, para espanto de todos,
disse: minha alma está no inferno por ter zombado do Evangelho. Por
isso, meus filhos, não zombem do Evangelho, mas procurem emendar de
vida hoje. Parem de usar drogas. Parem de se prostituir. Deixem-se
ser tocados pela Misericórdia de Deus que perdoa a todos.
Mas,
sinto o mesmo fogo que queimou São Jerônimo. Não
sabemos o estado que Richard morreu. Mas para confirmar essa
pregação, se foi humana ou inspirada por Deus. Responda-me... (o
Padre Antonio desce os degraus do presbitério, aproxima-se do
caixão) Responda-me, Richard, responda-me, onde está a tua alma?
Richard, onde está a tua alma? Richard, em nome de Jesus Cristo,
pela intercessão de Maria Santíssima, onde está a tua alma?
AAAAAAAAH
MISERICÓRDIA, SENHOR! - brada
Richard. Levanta-se!
Fica sentado. Não,
não em um caixão, mas na
cama de um
hospital. O efeito da droga foi forte, Richard alucinou, teve
overdose.
Mas
foi socorrido e levado para o hospital à tempo de salvar sua vida.
Mas ao lado de Richard está Chiara; Mônica, sua esposa, junto com
seus filhos.
R-Chi..
Chiara? Mônica? Crianças?
C-
Sim, não se esforce. Eu te vi na parada de onibus e você saiu
correndo. Fiquei te procurando. Logo avisei sua família. Eles estava
há meses te procurando. Você havia fugido, se entregue as drogas, a
destruição. Conhecia a história. Tomei a liberdade de procurar
Mônica, tornamo-nos amigas, e trabalhamos na sua busca. Sem sucesso.
Mas o destino – a providência divina, respondeu um dos filhos de
Richard – sim, a providência divina, nos fez nos encontrar. Você
passou mal, mas te trouxemos pra cá.
R
– Mônica, eu...
M
– Eu te perdoo.
Richard
não conseguia falar mais nada, apenas chorar. Vocês
também chorariam se vissem – mas imaginem – Mônica e os filhos
abraçando-o amorosamente, como sua própria vida que havia se
perdido e agora acharam. Todos em cima dele.
Richard
aprendeu uma bela lição. A verdadeira felicidade está no Céu, não
nas coisas passageiras da terra. E vejam como Deus foi bom com ele:
mesmo ele casando-se por interesses, Deus permitiu que se casasse com
uma mulher virtuosa, que o amou até na cruz, a exemplo de Jesus, e
rezava incessantemente por ele. Quantos terços ela não rezou? Assim
como a própria mãe de Richard.
Depois
que recebeu alta do hospital, ele, por livre vontade, internou-se
numa clínica de recuperação de dependentes químicos. Reconhecia
sua doença e queria se curar, para não ser novamente um homem das
coisas, nem uma coisa na mão do diabo, mas uma nova criatura em
Cristo Jesus.
Mas,
antes de internar-se na clínica ele manifestou desejo de ir a um
Padre confessar seus pecados. Ele sabia que o sonho que tivera não
foi apenas um sonho. Foi mais uma das grandes manifestações de Deus
chamando-o a conversão. Será que teria outra oportunidade? Ele
aceitou logo. Eis o tempo. Faça como ele.
Eis
que vai até aquela Igreja, Nossa Senhora das Misericórdias. Queria
lá, afinal, antes de passar mal (overdose)
havia fixado olhar lá. Além do mais, tendo sua esposa rezado tantos
terços, Maria Santíssima deve ter rogado por
sua alma.
Queria lá. E foi. Adentra,
vai até o confessionário. Eis que lá está um jovem sacerdote que
lhe diz: A
paz esteja contigo,
Richard, sou o Padre Antônio, quais são os teus pecados?
FIM